Fran está presente com gravação inédita na trilha sonora da próxima novela das 18h da Globo, Garota do momento, no ar a partir de 4 de novembro.
Integrante do trio Gilsons, o cantor carioca – filho de Preta Gil e neto de Gilberto Gil – gravou Fascinação para a trama criada pela novelista Alessandra Poggi e ambientada em 1958.
Fascinação é valsa-canção lançada na voz da cantora francesa Paulette Darty (1871 –1939) em 1905, ano em que Maurice de Féraudy (1859 –1932) escreveu a letra a partir da melodia composta em 1904 por Fermo Dante Marchetti (1876 –1940).
No Brasil, Fascinação ganhou versão em português escrita por Armando Louzada (1908 –1986) e apresentada em 1943 na voz do cantor Carlos Galhardo (1913 – 1985).
Em 1976, Fascinação voltou às paradas na voz de Elis Regina (1945 – 1982) em gravação feita para o álbum Falso brilhante (1976) e propagada na trilha sonora da novela O casarão (TV Globo, 1976).
Com os olhos voltados para o apartheid social do Brasil, Sandra deu voz a Charles Anjo 45 (Jorge Ben Jor, 1969) com o baticum do grupo afro-baiano Olodum, erguendo ponte que ligou as comunidades cariocas ao Pelourinho, epicentro do orgulho negro de Salvador (BA).
Duas versões em português de canções norte-americanas – ambas escritas por Nelson Motta – mantiveram a classe do álbum em tons serenos. Como um rio era versão de Cry me a river (Arthur Hamilton, 1953), balada jazzy e bluesy popularizada na gravação lançada em 1955 pela cantora norte-americana Julie London (1926 – 2000).
Já Love will lead you back (1989) era balada então recente da compositora Diane Warren que virou Quem é você na voz aveludada de Sandra, faixa feita por sugestão do executivo Mariozinho Rocha para a trilha sonora da novela Mico preto (TV Globo, 1990) e, por isso mesmo, escolhida pela BMG para promover (sem real empenho da gravadora) o álbum nas rádios e TVs.
Ainda dentro das fronteiras musicais dos Estados Unidos, a cantora gravou dois blues no disco, um em bom português e outro no original em inglês. Ninguém comigo agora era blues inédito de Roberto Frejat, roqueiro que sempre cultuou o gênero like a rolling stone. Já Send to me the electric chair (George Brooks, 1927), era blues feminino, altivo, empoderado, amplificado na voz de Bessie Smith (1894 – 1937).
Não bastasse a alta qualidade do repertório do álbum, encerrado com a balada Imensamente só (Reinaldo Arias e Nelson Motta), flash lindo e melancólico de fim de festa, Sandra de Sá estava no auge da forma vocal em 1990, elevando os tons quando necessário, mas dosando o canto com a sofisticação das grandes intérpretes.
Completaram o álbum o pop funk Arrocho (Mu Chebabi, Hubert e Robertinho Freitas) e Blue eyes (Jorjão Barreto e Ronaldo Barcellos), balada soul que soou similar a tantas gravadas antes pela artista.
Com o fracasso comercial do disco, Sandra de Sá voltou às fórmulas batidas da gravadora no álbum posterior, Lucky! (1992), sem o sucesso da década de 1980, mas sempre tentando – na medida do (im)possível no ambiente da gravadora – fazer se ouvir com a própria voz, uma das mais calorosas e potentes da música brasileira.
E o fato é que Sandra! é grande álbum legado para a posteridade por essa artista que fará 70 anos em 2025. Tanto que, vendas à parte, o disco deve ser contabilizado no saldo de sucessos de Nelson Motta. O fracasso foi comercial, jamais artístico. E, sim, o tempo, senhor absoluto da razão, ainda há de fazer justiça a Sandra!.